Comunicação às claras, com Coca-Cola e Brigitte Bardot

A Internet e as mídias sociais estão colocando as empresas e os políticos diante de um novo desafio: serem mais autênticos, transparentes e responsáveis. Com informações disponíveis a todos, inclusive por meio de simples pesquisas na web, o trabalho jornalístico está cada vez mais investigativo e, consequentemente, mais poderoso. As mídias sociais crescem a cada dia, com consumidores influenciando amigos e toda a sua rede de relacionamento. A Internet já é fonte de pesquisa e de reclamação para todas as classes sociais.

No documentário “Uma noite em 67”, sobre o Festival de MPB da TV Record, achei muito engraçada a resposta de Caetano Veloso para a pergunta de um jornalista. O repórter queria saber no que ele, Caetano, havia pensado ao incluir Brigitte Bardot e Coca-Cola na canção Alegria Alegria. Com a maior sinceridade do mundo, ele simplesmente disse: “Ora, pensei em Coca-Cola e Brigitte Bardot”. Se fosse hoje, a resposta provavelmente seria outra, pois o medo de uma interpretação incorreta faz com que todos fiquem muito cautelosos antes de expressar sua real opinião. Se a declaração fosse dada por uma empresa de capital aberto, seria pior: ‘Não posso falar sobre a música porque minha declaração pode afetar as ações da empresa’. Que bobagem, diriam os mais sábios.

Com uma sociedade mais aberta, esperta e questionadora, o Brasil, sem dúvida, está se desenvolvendo, pressionando os políticos para terem mais transparência e seriedade. As empresas também estão tendo que aprender a lidar com novos cenários de fiscalização, críticas e questionamentos por parte de todos os stakeholders, sofrendo pressões inclusive dos funcionários. Estão descobrindo, também, que mesmo denúncias infundadas sem provas podem afetar a reputação corporativa, que, sem dúvida, é um de seus bens mais preciosos. Estão constatando a duras penas que clientes não querem mais malas-diretas, spams, campanhas de publicidade genéricas como as usadas no passado ou os joguinhos bobos do presente que entopem nossos perfis nas mídias sociais. Querem respeito, diálogo e interação com as marcas.

Até a Apple, uma das marcas mais inovadoras do mundo, já sentiu na pele como é difícil ser questionada pelos consumidores. Mas, mesmo diante de obstáculos, a empresa decidiu não se esconder e continuar com o trabalho junto ao cliente, promovendo atividades de relacionamento e despertando a curiosidade de todos com seus grandes shows para lançamentos de produtos. Mesmo usando a mesma roupanas palestras, Steve Jobs tem se saído bem, assim como seus executivos, como prova o lançamento do iCloud na semana passada.

Ditando regras, externando desejos e preocupações, os clientes estão mais poderosos do que nunca e no centro da nova economia mundial, obrigando o mercado global de comunicação a repensar seus trabalhos e sua forma de atuação. Com serviços complementares e objetivos comuns, as agências de publicidade estão, pela primeira vez na história, começando a trabalhar cada vez mais próximas às empresas de comunicação empresarial para traçar estratégias, para atender aos diversos stakeholders com mensagens corretas e até para pulverizar informações nas mídias sociais. Nos bastidores dessa mudança estão as empresas que como contratantes estão descobrindo sabiamente os benefícios da comunicação integrada, pois de nada adianta investir numa ação publicitária externa se a empresa e todos seus stakeholders não estiverem contemplados e envolvidos na iniciativa.

As empresas com marcas mais valiosas do Brasil saem à frente com autenticidade, presença, relevância, consistência e inovação. Mas, mesmo com corporações como essas que fazem a lição de casa, o cliente que suspeita de algo troca de marca em segundos, com apenas um clique do mouse. A única solução para evitar problemas ou perdas é fazer com que a comunicação exista na prática e que seja, de fato, diferente, unificada e, principalmente sincera como a declaração dada por Caetano Veloso. Assim, empresas, agências e clientes só têm a ganhar.

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