Uma saída para a crise

Diante do atual momento econômico do Brasil, em que namoramos perigosamente com a recessão técnica, muitos líderes se questionam sobre qual seria a saída para atravessar o período de turbulência e se diferenciar dos concorrentes, visando retomar o crescimento e a competitividade.

Apostar em inovação, diriam os especialistas. Resposta óbvia, mas de execução prática complexa, embora não se possa perdê-la de vista de forma alguma. Esse caminho exige investimentos, visão de longo prazo e até transformação da cultura corporativa, mas, ao mesmo tempo, existem ações que podem ser adotadas para minimizar o cenário de incertezas, através da motivação das pessoas.

Essa alternativa se torna mais importante se analisarmos um ingrediente crucial para o sucesso empresarial: a produtividade. Os números são alarmantes. A produtividade cresceu bem menos no Brasil do que em outros 11 países concorrentes, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que analisou dados de 2002 a 2012. No período, a taxa média de crescimento do índice, que mede quanto se produz por hora trabalhada por ano, foi de 0,6%, o menor entre as economias pesquisadas. A Coreia do Sul aparece no outro extremo com alta média de 6,7% a cada ano. Nos Estados Unidos, o aumento foi de 4,4%.

A baixa produtividade do trabalho colaborou para que o Brasil registrasse na década o mais alto Custo Unitário do Trabalho (CUT) em dólares reais. A medida, que representa o custo com trabalho para se produzir um bem, aumentou 9% ao ano no período. O segundo colocado, a Austrália, registrou alta de 5,3% ao ano e apenas quatro dos 12 países estudados tiveram aumento do CUT.

O Brasil, por outro lado, apresentou o segundo maior aumento real de salário nesse intervalo de tempo (cresceu 1,8% ao ano), e a maior apreciação da moeda doméstica – o Real valorizou-se a uma taxa de 7,2% ao ano. Ou seja, os três fatores contribuíram negativamente para a competitividade brasileira.

A mudança nesse quadro está em nossas mãos. As empresas precisam rapidamente criar um novo ambiente interno, muito mais inventivo e colaborativo. A comunicação é, sem dúvida, a melhor ferramenta para promover mudanças, engajar jovens e diferenciar as empresas no mercado e de seus concorrentes.

As organizações que mobilizarem seus funcionários conseguirão atender melhor seus clientes, respeitar prazos de entrega e elevar a qualidade de produtos e serviços. Para isso, será necessário desenhar uma estratégia de comunicação bem clara e com propósitos bem definidos para engajar tanto as equipes mais juniores, como os executivos, em geral mais experientes, mas muitas vezes adversos a mudanças. A comunicação tem o poder de tocar o coração das pessoas, inspirar lealdade e gerar resultados práticos efetivos.

Para ajudar as empresas nesse novo desafio, apresento 10 dicas para transformar a comunicação interna:

1. Planeje – Analise seu propósito. Antes de qualquer medida, analise os diferenciais da empresa, seus objetivos de negócios e a imagem que pretende firmar. Lembre-se que isso dará o embasamento para a comunicação com os funcionários. É preciso uma sintonia entre as mensagens transmitidas para os públicos externos e aquelas voltadas para as equipes internas. Assim, antes de fazer anúncios para seus clientes, por exemplo, comunique a seus funcionários. Prepare e integre os canais de comunicação, levando em conta os prazos, os conteúdos e as especificidades de cada grupo.

2. Trabalhe de forma colaborativa – Peça o apoio de agências e empresas especializadas em comunicação empresarial e mobilize funcionários de diversas áreas e níveis hierárquicos para contribuírem com ideias e com a reflexão sobre os caminhos da organização.

3. Seja disruptivo – Pense em novos meios de comunicação. Até mesmo vídeos caseiros, feitos pelo celular, podem gerar efeito, se o conteúdo veiculado for instigante, assertivo e sincero. O importante é ter uma boa mensagem, bem direcionada.

4. Prepare-se para responder – A comunicação deve ter duas mãos para funcionar. A empresa saber preventivamente como responderá aos questionamentos que com certeza surgirão. A reposta precisa ser rápida e sincera, sem pré-julgamentos, pois se a pergunta foi feita é sinal de há algum tipo de dúvida. Sem isso, os funcionários podem perder a confiança no processo de mudanças.

5. Crie muitos conteúdos – Desenvolva conteúdos interessantes e diferenciados e realmente dirigidos para tocar e motivar os funcionários. A linguagem não deve ser necessariamente convencional, desde que isso ajude a transmitir mensagens de forma mais eficiente. Quanto mais se aproximar dos funcionários, melhor.

6. Explore o mundo digital – Aos poucos, incorpore ferramentas digitais ao processo. Pense também no uso do mobile. Hoje, o Brasil apresenta um alto nível de penetração de dispositivos móveis, com mais de um aparelho por habitante.

7. Aposte no orgulho de pertencimento – A comunicação deve vir também da parte de baixo da pirâmide. Já que a estratégia estará bem definida pela empresa, envolva mais funcionários na comunicação interna. O destaque a um colega, sobretudo se ele for um líder informal, pode gerar tanto resultado quanto uma mensagem do chefe. O orgulho de fazer parte só existirá se todos realmente participarem.

8. Traga humor – O humor bem dosado pode ser valioso aliado na comunicação e na compreensão da mensagem. O brasileiro gosta de ambientes informais e leves. Recomendo o uso com responsabilidade, com cuidado para não escorregar em piadas indevidas e comentários preconceituosos e discriminatórios.

9. Aumente o som – Selecione os funcionários mais dinâmicos, engajados e articulados para serem os embaixadores da comunicação. Eles ajudarão a empresa a transmitir melhor as ideias, falando com colegas e acelerando o processo.

10. Mensure os resultados – Crie canais para escutar opiniões e ideias. Meça a efetividade das campanhas e o grau de entendimento dos funcionários. Esteja preparado para compartilhar os resultados e para fazer ajustes de rumo, quando necessário.

Como dizia Walt Disney, nossos sonhos podem se tornar realidade se tivermos coragem de persegui-los. Que as empresas brasileiras tenham habilidade para mudar. O Brasil está precisando disso.

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